A Fundação Bienal de São Paulo lamenta profundamente o falecimento de Thiago de Mello e solidariza-se com seus familiares e amigos. Em sua obra, o poeta amazonense tratou de maneira clara dos problemas e das esperanças de milhões de homens e mulheres ao redor do mundo: “A esperança é universal, as desigualdades sociais são universais também (...). Estamos num momento em que o apocalipse está ganhando da utopia. Faz tempo que fiz a opção: entre o apocalipse e a utopia, eu fico com a utopia”, afirmou o escritor.
Foi um de seus versos mais famosos que intitulou a 34ª Bienal de São Paulo – Faz escuro mas eu canto. O verso apareceu pela primeira vez no poema “Madrugada camponesa”, escrito entre os anos de 1962 e 1963, com um tom de esperança por reformas progressistas que se colocavam no horizonte, mas publicado somente em 1965, após o golpe militar, quando o contexto lhe conferia outro sentido. Ele reapareceu no ano seguinte, como título de uma canção de Nara Leão, mas talvez sua presença mais significativa tenha se dado fora dos olhos do público: em 1968, Thiago de Mello foi preso e conta que encontrou, na parede da estreita cela, suas próprias palavras rabiscadas pelo preso anterior: “Faz escuro mas eu canto / porque a manhã vai chegar” – um sussurro de resistência, esperança e comunidade.
Conforme mudava o mundo, transformavam-se também as leituras desse verso. Mais de 50 anos depois, esse enunciado poético encontrou novas reverberações no contexto atual e na própria 34ª Bienal, demonstrando a força e a potência da poesia e do canto. Por meio das palavras de Thiago de Mello, a Bienal pôde reconhecer em seu título, sua forma de comunicação mais imediata, o estado de angústia do mundo contemporâneo enquanto realçou a possibilidade de existência da arte como um gesto de resiliência e esperança.
Que as palavras de Thiago de Mello continuem a ecoar em nossos cantos.
Fundação Bienal de São Paulo