O ano de 1975 foi marcado pelo fim da Guerra do Vietnã e, no Brasil, a Ditadura Militar vivia o seu clímax com o Ato Institucional Nº 5. As matérias de jornais da época revelaram que essa tensão vivida no país e no mundo influenciou na concepção da 13ª Bienal, realizada sob fortes interesses políticos: desde a escolha de artistas, obras, as premiações, "o que" e "quem" podia ser noticiado na mídia e, em consequência, qual notícia seria preservada no Arquivo Histórico Wanda Svevo - agora chamado Arquivo Bienal.
Nenhum dos dois artistas enfatizou o uso da fotografia como discurso estético, poético ou conceitual. Tampouco o fizeram os críticos de arte, curadores e jornalistas da época. Todos eles situavam a fotografia na marginalidade da arte, sem notarem que ela era a principal sensibilizadora da criação destes artistas que a utilizavam.
Nesses jornais pouco se noticiou sobre os artistas brasileiros, com destaque maior apenas para os artistas participantes da Sala Brasília, composta por 61 artistas consagrados ou premiados nas décadas anteriores pela Bienal. Esta sala tinha o intuito de reunir obras que seriam doadas ao acervo do futuro Museu do Artista Brasileiro em Brasília. O Museu - a ser construído - pretendia transformar a capital do país em um pólo de estudos da cultura brasileira para preservar a memória nacional. No entanto, essa ideia nunca foi realizada.
Em contrapartida, as mídias nacional e internacional deram grande ênfase aos 36 artistas americanos de videoarte e aos artistas estrangeiros premiados. A videoarte foi destacada como a "linguagem do futuro" dentro das artes visuais e os trabalhos realizados com essa linguagem foram considerados pela critica "obras autênticas e criativas, que evidenciavam o contexto de sua época".
Durante a pesquisa fiz o levantamento e analisei dados de seiscentos recortes de jornais e revistas sobre a 13ª Bienal, além de catálogos, livros, imagens de obras, documentos curatoriais e dossiês de artistas mantidos no acervo do Arquivo Bienal. A partir deste levantamento, selecionei dois trabalhos entre os quarenta que mais evidenciavam o uso da linguagem fotográfica: as obras Colóquio (1975), do pintor brasileiro Armando Sendin (1928 - ), e Return to Sender (1975) do performer suíço Urs Lüthi (1947- ).
O objetivo da análise dessas duas obras foi identificar o discurso técnico e estético das linguagens às quais elas se associavam - pintura e body art - confrontando-as com as principais ideias de André Rouillé, em seu livro A Fotografia: entre documento e arte contemporânea. Rouillé relata que a fotografia foi introduzida nas artes visuais a partir da década de 1970 através dos artistas - e não dos fotógrafos - como um recurso auxiliar de produção ou experimentação artística.
Este relato foi confirmado: nenhum dos dois artistas enfatizou o uso da fotografia como discurso estético, poético ou conceitual. Tampouco o fizeram os críticos de arte, curadores e jornalistas da época. Todos eles situavam a fotografia na marginalidade da arte, sem notarem que ela era a principal sensibilizadora da criação destes artistas que a utilizavam.
Armando Sendin, que participou da Sala Brasília, utilizou a fotografia para registrar figuras humanas e reproduzi-las em tela. Ele alegava que só a fotografia conseguia captar o instante exato da realidade que o seu olhar via, e a pintura reproduzia o instante que imaginava sobre aquela figura. Esteticamente, a obra Colóquio brinca com a questão da imagem real junto à imagem construída.
Os críticos nomeavam a sua pintura como hiper-realista. No entanto, Sendin contestava tal julgamento, afirmando ser "instantista", por retratar e reproduzir um instante da realidade e não a realidade em si, como faziam os hiper-realistas Norte-americanos da época.
Já Lüthi utilizou a fotografia não só como uma ferramenta auxiliar, mas também como material e vetor de sua obra. Return to Sender é uma série fotográfica de 22 imagens em preto e branco, exibida linearmente, intercalando os seus autorretratos com imagens de paisagens, objetos e pessoas de sua vida cotidiana que ele mesmo registrou. Esteticamente, o conjunto das imagens aparenta ter uma narrativa e provoca um estreito diálogo entre a linguagem fotográfica e a performática. A imagem monocromática ressalta a essência do objeto registrado – e não o seu contexto – deslocando o significado da obra para a instância da linguagem da body art e não a da fotografia em si. No entanto, as bordas brancas denunciam a imagem como sendo um registro fotográfico.
As obras de Lüthi da década de 1970 têm sempre o seu autorretrato inserido, captando sua identidade e ego, criando uma referência quase narcisista de si. Segundo Lüthi, o autorretrato contribui para a pessoa identificar os seus limites e possibilidades e acessar outras realidades existentes dentro dela própria.
A 13ª Bienal teve uma sala exclusiva para fotografias denominada "Sala de Fotografia", que exibia obras de "fotógrafos-jornalistas e fotógrafos-artistas" brasileiros. As obras desta sala não fizeram parte da pesquisa. O recorte escolhido tratou de obras que evidenciavam o uso da fotografia junto a outras linguagens, a partir da repercussão das matérias de jornais de época.
Sobre a pesquisa
Há um ano e meio venho pesquisando sobre fotografia contemporânea no cenário das artes visuais da década de 1970 no Arquivo Bienal. É importante ressaltar o cuidado que tive ao considerar, na minha pesquisa, o contexto político e artístico da época, bem como a maneira sob a qual a 13ª Bienal de São Paulo (1975) foi elaborada: pelos membros da Fundação Bienal de São Paulo em conjunto com as comitivas (curadores) internacionais e consulados e embaixadas no Brasil.
O Arquivo Bienal é um tesouro de conhecimento, surpresas e desafios, e tem o potencial de mudar a história da arte e até mesmo da sociedade. O trabalhoso exercício de selecionar, sintetizar e cruzar os dados entre documentos foi o que fez a diferença em minha pesquisa, tornando-a mais objetiva e autêntica, prezando pela qualidade e não pela quantidade de informação. Esse tipo de desafio raramente acontece quando a pesquisa é realizada apenas na superfície de livros acadêmicos ou pela internet.
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Yasmin Liz Branco é aluna de Artes Visuais do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Em dezembro de 2012, seu artigo intitulado "A Repercussão da Fotografia na 13ª Bienal de São Paulo", foi premiado no Congresso Nacional de Iniciação Cientifica (CONIC) como o sexto melhor trabalho apresentado na área das Ciências Humanas e Sociais, apresentado também no Simpósio Internacional de Iniciação Cientifica da Universidade de São Paulo (SIICUSP). A pesquisa foi orientada pelo Prof. Me. Paulo Mattos Angerami.