No dia 11 de junho, a comunidade do bairro de Heliópolis, zona sul de São Paulo, apresenta a 17ª edição da Caminhada pela Paz. Pelo terceiro ano consecutivo, o evento propõe o tema “Políticas Públicas + Consciência Comunitária = Sociedade Educadora”. O programa educativo da Bienal, que desenvolve parcerias com equipamentos do bairro desde 2010, contribuiu para a concepção de uma das propostas da programação do evento.
Com o projeto Bienal Mais Cidade (antes Bienal com as Comunidades), que busca abordagens de discussão por meio da arte contemporânea e resgata a história das bienais em ações contínuas na Grande São Paulo, a Bienal recebeu a proposta de trabalhar com linguagens que extrapolam a verbal e realizar uma provocação estética durante a edição.
Desenvolvida em parceria com o CCA Lagoa – UNAS Heliópolis e Região, a EMEI Cidade do Sol, a UBS Sacomã e a Subprefeitura Ipiranga, a proposta já vinha sendo elaborada como uma força-tarefa para enfrentar um problema localizado no quarteirão que compreende algumas destas instituições: as calçadas deste perímetro são um ponto viciado de descarte de lixo. A construção coletiva levantou algumas questões, como “por quê colocar lixo no espaço coletivo?” e “como suscitar o senso de pertencimento em relação ao espaço público?”.
Para a ação, retratos em preto e branco de alunos do CCA Lagoa e da EMEI Cidade do Sol, impressos em formato lambe-lambe, serão colados no extenso muro do quarteirão onde estudam, na esquina da Estrada das Lágrimas com a Rua Artistas de Heliópolis. A nova composição do muro será elaborada nos dias 9, durante o Festival da Paz, e 10 de junho.
No dia 11, por volta das 15h, um inflável com intervenções em desenho criadas pelos alunos em sala de aula será armado do outro lado da rua para a ação performática das crianças durante a Caminhada, como parte da mesma discussão a partir das perguntas: “o que eu vejo nesse lixo?” e “o que eu gostaria de ver no lugar desse lixo?”.
A relação entre arte e política, forte presença nas discussões educativas desde a 29ª Bienal, continua reverberando com as proposições da 31ª edição. Para potencializar o debate sobre a ação com os lambe-lambes, a equipe relembrou, por exemplo, os retratos de grandes dimensões feitos pelo artista Éder Oliveira nas ruas de Belém e no Pavilhão Bienal em 2014. Neles, também estão presentes questões como as representações das identidades nos espaços públicos e a cidade como matéria-prima.
“É importante que a criança tenha prazer em reivindicar seus direitos, sem ser algo forçado. Tentamos propor um modo para que o aluno entenda que aquilo é um direito dele, mas que também se sinta como uma criança reivindicando com outras crianças”, defende Rafael Outtone, coordenador pedagógico do CCA Lagoa.
Histórico da Caminhada
Criada em 1999, a Caminhada pela Paz surgiu como reação ao assassinato da adolescente Leonarda, então estudante da EMEF Campos Salles, no caminho da escola para sua casa. Braz Nogueira, então diretor da escola, buscou lideranças comunitárias, como João Miranda, da UNAS (União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região), para a realização da 1ª Caminhada. Se o intuito inicial era simbolizar a luta contra a cultura de violência no caso Leonarda, hoje em dia a Caminhada atua a partir de diferentes demandas, com participação estimada em 20 mil pessoas.
Também presente na fundação da Caminhada, Orlando Jeronymo, professor de português da EMEF Campos Salles, fala sobre as transformações desde então: “o projeto buscou a continuidade para criar uma cultura de paz. Uma batalha pela paz. Parece contraditório, mas é isso mesmo. É impossível você pensar em paz se está com fome, se não tem onde morar, ou se eu puder tomar um tiro na cara porque sou gay. Não queremos que as pessoas compreendam paz só como o dia em que ninguém tomou o tiro. Se uma pessoa deixa de morrer de fome ou deixa de morrer por preconceito, aí sim temos paz”.
Assim, Rafael Outtone retoma a ligação fundamental entre escola e comunidade na história da Caminhada: “é um momento importante para os professores que muitas vezes não conhecem as comunidades onde seus alunos moram. Uma coisa surpreendente para o aluno é ver o professor dele dentro do bairro e poder dizer: ‘olha, minha casa é ali’. Os familiares também podem dizer: ‘vi seu professor’”.
No segundo semestre, Pablo Tallavera e Felipe Tenório, educadores do projeto Bienal Mais Cidade, seguirão articulando junto aos parceiros novos desdobramentos para trabalhar questões centrais à comunidade por meio de propostas artísticas.
Participação da Bienal na 17ª Caminhada pela Paz
11 de junho de 2015, quinta-feira
15h Ação educativa da Bienal (partida do EMEF Luiz Gonzaga do Nascimento Jr. – Gonzaguinha: Estrada das Lágrimas, 1029)
Outros horários e locais de concentração:
13h CEU Heliópolis Profª. Arlete Persoli: Estrada das Lágrimas, 2385
14h30 CCA Heliópolis: Rua Coronel Silva Castro, 58
Texto: Regiane Ishii
Fotos: Sofia Colucci