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01 Set 2014
Artista da 31ª bienal em parceria com Educativo promove workshop
Às vésperas da abertura oficial, o artista romeno Dan Perjovschi promoveu junto com o Educativo um workshop de desenho aberto ao público.

A 31ª bienal quer ser vivida como um evento contínuo e muitas ações com os artistas participantes da exposição já estão acontecendo antes mesmo do início da mostra. Às vésperas da abertura oficial, o artista romeno Dan Perjovschi, que está em São Paulo desenvolvendo o trabalho que irá apresentar na 31ª bienal, promoveu junto com o Educativo Bienal quatro sessões de um workshop de desenho aberto ao público e que foi realizado no próprio local da obra.

“A bienal fez um esforço para me trazer para cá, e esse workshop é uma forma de agradecimento, uma troca. É sempre uma experiência complexa conversar com as pessoas de um país que eu não conheço, e esse tipo de ação me ajuda a conhecer o local e a finalizar meu trabalho”, disse Perjovschi no início do workshop. Com “Parede, obra, oficina. O desenho de São Paulo”, o artista romeno aproveitou para falar sobre seu trabalho.


Desenhos com linhas brancas ou pretas feitas com canetões diretamente sobre as paredes do espaço expositivo são sua marca registrada. Com um traço simples, que lembra o desenho de uma criança, e repleto de ironia e humor, os desenhos de Perjovschi mostram uma postura crítica às questões complexas do mundo contemporâneo.



“Até os meus 20 anos, fui criado numa Romênia que vivia uma ditadura comunista. A ironia e o humor fazem parte de mim, e foi uma forma de me expressar, me defender e mostrar a minha visão das coisas”, ressaltou.

De acordo com uma das participantes do workshop, a designer de moda Sara Acauan, o artista romeno consegue ser muito direto em seu trabalho: “É um desenho muito simples que comunica muita coisa. São desenhos inteligentes”, completou.

Durante o workshop o artista destacou: “O desenho é uma forma de se comunicar com o mundo. As crianças pequenas desenham o tempo todo. Aí vamos para a escola e esquecemos nossos traços, porque a professora ensina a desenhar o céu, o mar, os pais. Vamos crescendo e o desenho autoral vai embora e passamos apenas a copiar”, lamentou o artista, e acrescentou: “Eu mesmo demorei mais de 20 anos para esquecer tudo que aprendi com a pintura acadêmica e chegar ao resultado de hoje.”

Depois de uma conversa para conhecer os participantes e apresentar seu trabalho, Perjovschi os convidou para desenharem a imagem que eles têm do Brasil.


“O desenho é livre, cada um tem suas regras. Aqui nós vamos brincar! Vocês podem desenhar colorido, ou preto e branco. Mas hoje os desenhos serão somente em preto e branco porque depois de prontos vamos xerocá-los sem cor. Eu sou especialista em coisas simples, mas vocês podem ser complicados o quanto quiserem (risos). Teve um bombardeio de imagens do Brasil no mundo todo por conta da Copa do Mundo, mas quero que vocês me revelem um país que vai além da 5ª maior economia do mundo, do futebol, da caipirinha, do samba e carnaval. Porque isso eu já sei! Quero que vocês mostrem o que isso significa”, propôs o artista.



Voto obrigatório, política, manifestações de junho de 2013, problemas sociais, qualidade de vida, miscigenação e “jeitinho brasileiro” foram alguns dos assuntos recorrentes nos desenhos dos participantes.

“Tentei comunicar no meu desenho coisas que me vieram na cabeça como dinheiro, poluição, mentira”, contou Luciana Canto, educadora da 31ª bienal, mostrando seu trabalho. 



Perjovschi comentou todos os desenhos, um por um, e se mostrou surpreso com a visão do brasileiro sobre o próprio país: “Vocês têm um olhar bem crítico!”

O artista também se surpreendeu com algumas revelações que vieram através dos trabalhos: “Esse paradoxo entre os arranhas céus e as favelas também me pegou. No hotel onde estou tenho uma vista que mostra exatamente isso”, disse ele em relação a um desenho que mostrava muitos prédios de luxo e casas bem populares em frente. Em outro desenho, que apresentava a rotina de um trabalhador em São Paulo, o artista comentou: “Mas vocês acordam às 6h da manhã para entrar no trabalho às 10h? Tudo isso por conta do trânsito, da falta de transporte, do caos? Se me contassem lá na Romênia que um brasileiro tinha essa rotina, eu não acreditaria. A imagem estereotipada que se faz do Brasil é de que aqui é só samba, carnaval e futebol.”

Para finalizar, o artista fez cópias de um desenho de cada participante e montou um fanzine, pequena publicação informal, que foi distribuído para todos que participaram da oficina.

“Foi muito bom esse contato com o Dan! Trazer um artista da bienal para fazer um workshop aberto ao público antes da mostra é fantástico, ainda mais no meio da montagem, pois aí dá para se ter ideia do que será o trabalho desse artista e da exposição”, comentou um dos participantes, o artista plástico Wagner Lopes. 

Texto: Vivian Lobato
Fotos: Sofia Colucci