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22 Set 2021
Faixa 16: Pia Arke
Pia Arke, <i>Jord til Scoresby Sund</i> [Solo para Scoresby Sund], 1998. Filtros de café, café e barbante de algodão, 160 x 165 cm. © Levi Fanan /Fundação Bienal de São Paulo
Pia Arke, Jord til Scoresby Sund [Solo para Scoresby Sund], 1998. Filtros de café, café e barbante de algodão, 160 x 165 cm. © Levi Fanan /Fundação Bienal de São Paulo

bienal · 15 - Pia Arke

Na minha última faixa, vou apresentar o trabalho de Pia Arke, que nasceu na Groenlândia, em 1958, e faleceu na Dinamarca, em 2007. 

O conflito colonial entre estes dois territórios faz parte da história de Arke. A Groenlândia é considerada a maior ilha do mundo e é uma região autônoma do reino da Dinamarca. 

Arke é filha de pai dinamarquês e mãe groenlandesa e passou a infância na Groenlândia sem aprender a falar a língua local. 

Em sua obra, ela combina sua própria imagem e herança miscigenada com referências históricas e geopolíticas para abordar as relações de poder entre a Dinamarca e a Groenlândia, os problemas de identidade que surgem da exploração colonial e os estereótipos ocidentais da identidade e cultura inuítes.

A obra “Jord til Scoresbysund” ou “Solo para Scoresbysund”, em português, é de 1998 e está ligada a uma das estadias da artista na cidade de Scoresbysund, que fica na costa da Groenlândia, quando sua cunhada lhe disse que a borra de café deveria ser jogada pela janela para fertilizar o solo pedregoso.

A obra é uma instalação composta por centenas de filtros de café, amarrados com barbante de algodão branco e dispostos um juntos um ao outro formando um quadrado com cerca de um metro por um metro.

Os filtros de café usados ainda possuem café em seu interior e estão amassados, de modo que o café não caia. Desta forma, cada um deles se assemelha a um pequeno pacote. Da cor branca original dos filtros não resta nada. Eles estão todos amarronzados em tonalidades que vão do bege ao marrom escuro.

Imagino que você esteja se perguntando o que aconteceu com todo o café. Ele foi bebido pela equipe da Bienal! São mais de 100 profissionais trabalhando ininterruptamente por 2 meses durante a montagem da mostra, então, bastou armazenar os filtros do café bebido pela equipe para ter a matéria-prima necessária para a realização desta obra. 

Esta instalação é um exemplo de como Arke dá novos significados a materiais apropriados por meio de sua prática conceitual e performática.  Seu corpo e seu rosto – em si mesmos carregados da história da representação étnica – e marcos naturais da Groenlândia são temas recorrentes em seus trabalhos, que apresentam, lado a lado, diferentes camadas da realidade.