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22 Set 2021
Faixa 12: Claude Cahun
Vista das fotografias de Claude Cahun na 34ª Bienal de São Paulo. © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo
Vista das fotografias de Claude Cahun na 34ª Bienal de São Paulo. © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

bienal · 11 - Claude Cahun

Oi! Agora sou eu, a Sara Bentes! Vou te acompanhar pelas próximas cinco faixas.

Começamos nosso percurso com as obras de uma das expoentes da fotografia surrealista, Claude Cahun. Esse é o nome artístico da francesa Lucy Schwob. Além de fotógrafa, Cahun se destacou também como poeta, ensaísta e autora teatral. Ela é um exemplo da figura de artista total, e sua prática é inseparável da sua vida pessoal. 

Até hoje Cahun é referência visual fundamental no campo dos estudos de gênero. Suas fotografias foram radicalmente originais em sua época. Muitas vezes elas eram feitas em sua casa mesmo, com a colaboração de seu parceiro romântico Marcel Moore (nascido Suzanne Malherbe). De tão radicais que eram, essas fotos não foram expostas publicamente antes da morte de Cahun, em 1954. Foi só na década de 1990 que o conjunto de sua obra começou a receber atenção mundial.

Em muitos de seus autorretratos, ela se disfarça, usa máscaras. Às vezes ela exibe uma feminilidade ultrajante, enquanto, em outras, é de uma masculinidade assertiva, raspa o cabelo e encarna personagens diversos como o dândi ou o esportista. Além da diversidade de personagens e personalidades exibidas, ela utilizava recursos como reflexos, simetrias e multiplicação de imagens como formas de escapar do binário e do previsível.

Entre as 45 fotografias aqui expostas, destaco um retrato intitulado "Self-portrait (reflected image in mirror, checqued jacket)", ou “Imagem refletida no espelho com jaqueta xadrez”, feito em 1928. Emoldurada, a obra tem 50 centímetros de altura por 30 centímetros de largura. É uma fotografia em preto e branco onde Claude Cahun é vista da altura do quadril para cima, em pé e de lado, com o rosto voltado para nós. Ela está ao lado de um espelho de tamanho médio, que reflete seu rosto e ombros. A artista veste uma jaqueta xadrez e tem a mão direita colocada perto da gola que está levantada, cobrindo sua nuca. Ela olha na direção da câmera e sua imagem refletida a mostra olhando para o lado oposto, num misto de atenção e desinteresse.  Seus cabelos são loiros e bem curtos, sua pele é branca, o nariz fino e proeminente, a boca pequena de lábios grossos. As duas Cahuns parecem fundir-se no efeito da imagem refletida no espelho. 

O resultado é uma figura andrógina de duas cabeças, um enigma de olhar profundo que parece lançar um desafio ao espectador.