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22 Set 2021
Faixa 4: Uýra
Uýra, <i>Vovó Cobra</i>, 2021. Instalação fotográfica. Comissionada pela Fundação Bienal de São Paulo para a 34ª Bienal
Uýra, Vovó Cobra, 2021. Instalação fotográfica. Comissionada pela Fundação Bienal de São Paulo para a 34ª Bienal

bienal · 03 - Uýra

Chegamos à montagem de algumas fotoperformances de Emerson Pontes, artista-visual nascida na Amazônia brasileira, que também é bióloga e arte-educadora. Emerson é de origem indígena, mas não sabe de qual povo descende, pois foi violentamente apartada de suas origens e raízes, como muitos outros membros de populações originárias do continente americano.

Mas não é Emerson que vemos nas fotos, senão Uýra, uma entidade híbrida que se apresenta como “uma árvore que anda”. Ela nasceu em 2016, durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff, quando o biólogo decidiu expandir sua pesquisa acadêmica e buscar formas de levar o debate sobre a conservação ambiental e os direitos indígenas e LGBTQIA+ às comunidades de Manaus e seus arredores. 

Seja em aulas de arte e biologia; seja em suas performances fotográficas, com maquiagem e camuflagem; seja em textos e instalações, o que Uýra faz é falar desde a floresta e com ela. 

Os elementos usados por Uýra na sua caracterização para fotos e fotoperformances são sempre provenientes da natureza e podem envolver ramagens, sementes, conchas, folhas e flores. A sua aparência está em constante mutação, assim como a floresta. O processo de transformação de Emerson em Uýra pode demorar até cerca de duas horas.

Parte da série Elementar, que vemos aqui, a fotografia Rio Negro, produzida em 2018, é retangular e vertical, medindo 110 centímetros de altura por 74 centímetros de largura. Mostra em destaque o rosto de Uýra envolto por uma densa folhagem verde de variadas formas. Seus olhos brilham no azul intenso das pupilas, que contrastam com sua pele coberta por uma tintura preta acinzentada. Dos dois lados do rosto, logo abaixo dos olhos, há caules vermelhos de onde saem ramagens brancas que parecem se integrar ao seu rosto como um organismo vivo. A parte central de seus lábios está pintada de branco e no seu pescoço é possível perceber, entre as folhagens verdes, um colar feito de contas e sementes. 

Uýra não pertence a nenhum gênero ou espécie, e, em seu não-pertencimento, identifica-se com a vida como um todo. Ela evoca, ao mesmo tempo, seres ancestrais ou futuristas, entre utópicos e apocalípticos, de uma beleza perturbadora. A floresta que engole o corpo e o corpo que se transforma.