Nos meses que antecedem a exposição, um dos principais eixos de ação do Educativo Bienal é a formação de professores, educadores e profissionais da cultura. Em cada encontro sobre arte contemporânea, é preciso buscar distintas aproximações com cada um destes públicos. Aqueles que participam de ações continuadas, por exemplo, podem se aprofundar em conceitos já abordados anteriormente. Estabelecer pontes que permitam o diálogo, o encontro e a experiência são os desafios para construir as relações, superar diferenças e processar transformações. Veja como ocorrem alguns dos Encontros sobre Arte do Educativo com seus diferentes públicos.
Encontro com professores, educadores sociais e alunos
Em que medida as ferramentas do Educativo Bienal estão intrínsecas à proposta de curadoria da 31ª Bienal? Sendo a educação um dos eixos centrais da curadoria expositiva, o Encontro de Formação em Arte Contemporânea que ocorreu na Escola Técnica Pandiá Calógeras, que faz parte da Fundação CSN, em Volta Redonda (RJ), apresentou e discutiu os processos de construção colaborativa e horizontal de uma Bienal em andamento. Os “protagonismos cambiantes” e como o poder de escuta e reflexão das ações educativas nos permitem caminhar juntos quando se trata de dar visibilidade e encontrar as urgências que nos movem no contexto atual.
A partir dos processos de pesquisa dos artistas Yochai Avrahami e El Hadji Sy em residências artísticas no Brasil, as palestrantes do Educativo Bienal Elaine Fontana e Paula Ramos debateram com os participantes do encontro os diferentes olhares que suscitavam dos seus processos de criação e suas escolhas. A análise compartilhada entre todos, possibilitou a indagação sobre como se compõem as narrativas históricas e sociais, modos de colocá-las em discussão, relacionando-as com as nossas próprias experiências.
Os públicos diversos que compuseram os quatro encontros se formaram com a participação de professores, assistentes sociais de ongs, centros culturais e casas de repouso da região, alunos da escola normal, estudantes de Petróleo e Gás e de Eletromecânica da Escola Técnica Pandiá Calógeras e também do curso de graduação em Design e Pedagogia. A convocação foi feita através do Centro Cultural da Fundação CSN sob a coordenação de Giane Carvalho do departamento educativo. Devido à grande variação de público a cada encontro, foi preciso reinventar as estratégias de aproximação com os públicos a fim de alcançar as distintas especificidades presentes. Quase como se os grupos nos dissessem por qual caminho deveria ser seguido e não o contrário.
Encontro com professores e alunos
O Encontro de Formação em Arte Contemporânea na Escola Estadual Silva Jardim, em São Paulo, foi dirigida para professores da escola e também dos alunos do ensino médio e do nono ano. Por ser o primeiro contato com a escola, os questionamentos iniciais giraram em torno do espaço e do prédio que abriga a Bienal a cada dois anos. Como esse mesmo lugar pode abarcar uma diversidade de eventos? De que maneira o público pode transformar esse lugar? Quando o que é exposto naquele espaço se transforma em arte?
Estreitar a relação entre arte contemporânea e o caráter lúdico de obras que evocam a soma das várias experiências individuais, potencializando o compartilhamento de sensações foram abordados pela palestrante Paula Ramos. Os conceitos presentes no Educativo Bienal, como encontro e experiência, permitiram entender a coletividade como uma experiência corpórea em que o lúdico nos remete a outros níveis de reflexões. Foi interessante perceber nesse encontro de formação o atravessamento do diálogo entre os professores e os alunos, em que as hierarquias foram rompidas e o espaço e os corpos se ocuparam de um intenso fluxo de relações estabelecidas.
Encontro com bibliotecários
Este foi o segundo encontro com os bibliotecários do Centro Cultural São Paulo (CCSP). Para iniciar o diálogo, a palestrante Regiane Ishii sugeriu a formação de uma roda na área aberta da Praça das Bibliotecas. O espaço, próximo de suas mesas de trabalho e sujeito às interferências do público, potencializou a reflexão sobre questões fundamentais de seu cotidiano. Como se dão as negociações entre a arquitetura, a programação e o público no CCSP?
Mais do que uma biblioteca, o que existe é um complexo de bibliotecas inserido em um centro cultural que abriga espetáculos e exposições de arte, além de muitos usos espontâneos criados por um público diverso. As demandas e as vulnerabilidades envolvidas nas relações que se dão neste espaço provocaram discussões sobre coletividade e conflito, ideias cruciais no desenvolvimento da 31ª Bienal.
Também foi apresentado o trabalho de Mark Lewis, artista selecionado para a 31ª Bienal, que visitou o CCSP durante a pesquisa de sua residência artística em São Paulo. Seus filmes, realizados em diferentes cidades do mundo, dedicam-se a exercitar modos de olhar a paisagem urbana contemporânea. Partindo das reflexões levantadas por seu filme Beirut (2011), pudemos pensar a presença do CCSP no imaginário da cidade como um lugar potente para invenções e transformações.
Encontro com público diverso
Este foi o quarto de uma série de encontros realizados no Centro Cultural São Paulo com inscrições abertas ao público. Partindo da ideia de jornada, a proposta centrou-se em como diferentes processos de deslocamento estão presentes em alguns projetos artísticos contemporâneos e na criação da própria 31ª Bienal. Foi iniciadocom o artista chileno Juan Downey (1940-1993), que na década de 1970 empreendeu uma grande viagem com sua câmera por comunidades indígenas das Américas.
A participação do Educativo na pesquisa realizada em São Paulo por alguns artistas estrangeiros selecionados também integrou as proposições do encontro. Foram discutidos especificamente os percursos de Danica Dakic, cuja pesquisa voltou-se aos movimentos migratórios e à exploração de “lugares oníricos” em São Paulo, e de Mark Lewis, que percorreu diferentes regiões da cidade com seu olhar afiado em busca de locações para um filme inédito.
Fotos: André Bitinas, Maíra Martinez e Sofia Colucci