São Paulo é uma cidade conhecida por suas chuvas e alagamentos. Imagens do acervo da Bienal mostram um espelho d’água dentro do pavilhão na 2ª Bienal (1953-1954). E uma história divertida é contada pelo pesquisador Renato Maia, que vem realizando, desde 2013, uma investigação no Arquivo Bienal para seu pós-doutorado.
Durante o ano de 2004, Maia entrevistou o português Fernando Lemos – que já havia participado da mostra como artista e como montador na 2ª Bienal. Foi Lemos quem lhe relatou um episódio que aconteceu durante a montagem da 5ª Bienal (1959):
“Como chovia muito e todo o pavimento térreo ficou alagado, ele [Fernando Lemos] trabalhou com afinco até alta madrugada, para colocar a salvo as obras mais ameaçadas e convencer os couriers holandeses a não levarem para o hotel os quadros de Van Gogh. Finalmente, já em casa, veio buscá-lo o motorista de Ciccillo, que o esperava no carro. Ao entrarem na Bienal, Ciccillo, do alto da rampa, gritou, apontando para a lâmina d’água que cobria o piso: – E aí, seu Fernando, o que vamos fazer? Sem pestanejar, Fernando Lemos respondeu: – Vamos fazer o que o senhor sempre quis, a Bienal de Veneza. Ciccillo saiu indignado com a petulância do português e no dia seguinte Lemos foi demitido. Perdeu o emprego, mas não perdeu a piada.”
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Renato de Andrade Maia Neto é pesquisador da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Sua tese de pós-doutorado com bolsa FAPESP tem como título “Apuros de pensar museus: o confronto de teorias entre Sergio Buarque de Holanda e Mario Pedrosa na passagem do acervo do MAM-SP para formação do MAC-USP”.