No próximo sábado, 9 de junho, será inaugurada em Kassel, na Alemanha, a Documenta (13), com a direção artística de Carolyn Christov-Bakargiev. A Documenta de Kassel, a Bienal de Veneza e a Bienal de São Paulo formam a tríade das maiores e mais antigas exposições de arte do mundo. Nas últimas décadas houve uma verdadeira proliferação de bienais pelos quatro cantos do planeta – atualmente estima-se que existem mais de trezentas. Mas, seja por longevidade, grandiosidade, relevância, tradição, a tríade segue em frente, firme e forte.
Trata-se de uma arrancada para um futuro social inteiramente novo. Trata-se, para tanto, de acabar com as muralhas ideológicas entre o Oriente e o Ocidente. Trata-se, também, de superar o abismo entre Norte e Sul - Joseph Beuys
A primeira foi a Bienal de Veneza, que começou em 1895. A segunda, a Bienal de São Paulo, realizada desde 1951. A Documenta, diferentemente das bienais, não acontece a cada dois anos. Criada em 1955 por Arnold Bode, tinha como objetivo reintroduzir a arte moderna na Alemanha após a guerra e foi realizada com periodicidade irregular nos seus primeiros anos. A partir de 1972, passou a ser organizada a cada cinco anos. Foi nessa época que ela ganhou maior repercussão internacional e chegou a ser considerada a mostra de arte mais importante do mundo.
A Documenta (5) de 1972 contava com o lendário Harald Szeemann como o seu mais jovem diretor artístico – ou, como gostava de ser chamado, "secretário geral", evocando um "líder de um partido comunista ou das Nações Unidas". Szeemann sempre rejeitou o termo "curador", preferia "realizador de exposições", sendo "When attitude becomes form" uma das mais importantes mostras que ele realizou, pouco antes de revolucionar a Documenta de Kassel. Foi Szeemann quem deu forma tangível ao advento do "processo como arte", expondo não somente pinturas e esculturas como também performances, happenings e instalações, no chamado "museu de cem dias".
Szeemann referia-se ao trabalho do artista alemão Joseph Beuys como o que "incorporou mais fielmente a utopia social que emergia do otimismo pós guerra". E durante os cem dias dessa Documenta, Beuys instalou um escritório vivo, um posto de informações sobre o que ele denominou Organização para a democracia direta por referendum. Sua obra consistia numa série de conversas com o público, reunindo uma variedade de tópicos sobre política e arte. Para Beuys, as intenções políticas verdadeiras deveriam ser artísticas, originadas da criatividade humana, da liberdade individual de cada homem.
Sete anos depois, na 15ª Bienal de São Paulo (1979), Beuys continuava agitando: organizou um documento intitulado "Conclamação para uma alternativa global" que já nas primeiras linhas declarava sua ambição: "Trata-se de uma arrancada para um futuro social inteiramente novo. Trata-se, para tanto, de acabar com as muralhas ideológicas entre o Oriente e o Ocidente. Trata-se, também, de superar o abismo entre Norte e Sul".
A última Documenta (12), em 2007, teve a participação do artista brasileiro Ricardo Basbaum, um dos artistas selecionados para a 30ª Bienal de São Paulo (2012). O trabalho processual de Basbaum apresentado naquela Documenta – chamado Você gostaria de participar de uma experiência artística? – vai ao encontro das ideias tanto de Szeemann quanto de Beuys. Confira mais sobre o trabalho de Ricardo Basbaum no dossiê do artista, no Portal Bienal.