A primeira participação de Arthur Bispo do Rosário na Bienal de São Paulo é na 30ª edição (2012). Em 1995, seis anos após sua morte, suas obras foram expostas durante a representação brasileira na 46. Biennale di Venezia, ao lado de Nuno Ramos.
A primeira participação do Brasil na Bienal de Veneza foi em 1950. Ciccillo Matarazzo, então presidente do Museu de Arte Moderna de São Paulo, foi responsável por introduzir artistas brasileiros naquela Bienal, para no ano seguinte, criar a Bienal de São Paulo aos moldes da mostra italiana. A representação brasileira em Veneza ficou a cargo da Bienal de São Paulo até 1968, quando, já com a saúde debilitada, Ciccillo passou a tarefa ao Ministério das Relações Exteriores. Em 1993, a Fundação Bienal de São Paulo retomou a organização, e, em 1995, no centenário da Bienal de Veneza, apresentou a obra de Arthur Bispo do Rosário e Nuno Ramos, sob curadoria de Nelson Aguilar.
Miniaturas que permitem a minha transformação, isso tudo é material existente na Terra dos Homens. Minha missão é essa, conseguir isso que eu tenho, para no dia próximo eu representar a existência da Terra. É o significado da minha vida. - Arthur Bispo do Rosário
Um relatório de maio de 1995, encontrado na documentação, mostra que as obras de Bispo passaram por um processo de conservação e restauração, patrocinados pela Fundação Bienal, pouco antes de embarcar para Itália. Em 2000, a obra de Bispo esteve presente no Parque Ibirapuera, na Mostra do Redescobrimento, integrando a exposição Imagens do Inconsciente com outros artistas do Engenho de Dentro. A história de Arthur Bispo do Rosário é conhecida. Logo após sua morte, em julho de 1989, seu acervo artístico viajou por inúmeras cidades do Brasil e do mundo, como é possível observar em seu dossiê no Arquivo Bienal.
O curador Frederico de Moraes organizou a primeira grande exposição de sua obra na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, em outubro de 1989. Moraes já havia tentado fazer uma exposição individual de Bispo enquanto ele estava vivo, no MAM do Rio, mas Bispo "recusava-se a se separar de qualquer uma das centenas de peças que atulhavam o exíguo espaço da cela onde vivia" (Tribuna Bis, 11 out. 1989).
Sua obra consiste numa grande coleção de objetos que ele reuniu, teceu, organizou, classificou, como um grande arquivista que coletava pedaços da vida cotidiana para levá-los à luz, no reino dos céus. Passou quase toda a sua vida em um mesmo lugar: o centro psiquiátrico Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro. Muitos dos objetos que colecionava e organizava criam grupos tipológicos da vida cotidiana - que ele chamava de "vitrinas" -, como se realmente quisesse mostrar para alguém que não nos conhecesse o que usamos para beber, vestir, comer, construir, celebrar.
Com as linhas que desfiava de uniformes e lençóis, Arthur Bispo do Rosário teceu o Manto da apresentação, considerado por muitos a sua obra síntese. Feito ao longo da vida para a sua chegada ao céu, o manto representa os seus referenciais: do lado de fora, imagens e textos de seu universo particular, do lado de dentro, nomes de pessoas queridas, escolhidas. E não será realmente isso o que levamos conosco?