Uma grande escultura ao ar livre, com cara de pista de skate, está sendo projetada pela artista coreana Koo Jeong A para a 32ª Bienal - Incerteza viva. Todas as noites, a escultura fosforesce em cor de rosa, respondendo às mudanças de luz naturais do ambiente. A artista, que já criou duas pistas anteriormente - em Vassivière (França, 2012) e na Bienal de Liverpool (Inglaterra, 2015) - interessa-se principalmente por espaços de convívio e interações humanas.
Localizada em frente à rampa do MAC e ao portão 3, numa área livre de árvores, a escultura de 17 m de diâmetro pode ser vista de dentro do Pavilhão da Bienal. É uma instalação temporária e, até o fim da Bienal em dezembro, a paisagem original será restaurada. Intitulada Arrogação, a obra convida os skatistas do parque a um deslocamento na experiência de espaços com outras qualidades.
A interação do público com a obra de arte e sua ativação por parte da comunidade de skatistas é parte fundamental do projeto, diz a artista. Em entrevista aos participantes de um workshop para a produção do material educativo da 32ª Bienal, Koo disse: “O Parque Ibirapuera pode ser um laboratório para o século 21.”
Confira fotos da construção da obra e a entrevista com Koo Jeong-A para o Material Educativo da 32ª Bienal
fotos: Pedro Ivo Trasferetti / Fundação Bienal de São Paulo
Na sua biografia você menciona que 'vive e trabalha em todo lugar'. Como você definiria “viver em todo lugar”?
Isso define o padrão de vida da nossa cultura contemporânea que está relacionada a redes de mobilidade, conexões globais de viagens, a forma como cada ponto e estação não são mais dependentes de terras específicas, como em uma sociedade agrícola.
Como você imagina o Brasil (seus cheiros, cores, luzes, movimentos, naturais e artificais)? Como você imagina o Parque do Ibirapuera em São Paulo?
Eu aprendi sobre um Brasil cheio de imensos recursos naturais, com um legado cultural que viveu e desenvolveu recursos inovadores que se tornaram o centro para inspirações culturais. O Parque do Ibirapuera pode ser um laboratório para o século 21. A minha imaginação seguiria pela linha de recursos planetários no Brasil.
O que você considera quando pensa sobre a relação entre o trabalho de arte e o público?
Eu considero o cerne funcional do trabalho artístico as vibrações na alma do público em muitos sentidos de recursos abertos. Seria ótimo se o público reconhecesse a essência do trabalho artístico por meio de seu próprio cultivo. Cultura não é uma doação de doces distribuída pelo poder governante. A propósito, visitei o Spiral Jetty feito por Robert Smithson no Great Salt Lake em Utah. Lá conheci alguns visitantes no caminho ao espiral que disseram que a obra foi feita por forças naturais. Considero o maior elogio feito sobre uma obra de arte pelo público.
Você revisita suas obras enquanto são exibidas?
Sim. Pelo meu interesse sobre como meu trabalho muda, às vezes destruído pela grande quantidade de visitantes em espaços públicos. Depois eu aprendo como lidar com espaços públicos em projetos futuros com esse caráter específico de obras de arte.
Considerando o jogo entre visível/invisível em suas obras, como você vê o papel da mediação nos seus trabalhos?
Eu vejo a mediação como uma parte tão importante quanto a realização do trabalho, principalmente em um estado estabelecido de envolvimento como em Bienais, instituições e museus. No entanto, a realização completa do trabalho pode ser precedente. A mediação de materiais segue ao longo do curso da estrutura do trabalho que tem elementos inclusivos no próprio corpo do projeto.
Podemos ver um jogo de efemeridades e permanências em seus trabalhos. Como você lida com a questão do tempo?
Eu coloco a importância do meu tempo como uma parte profunda dos projetos. Por exemplo, durante a pesquisa que fiz para EVERTRO, parque de skate que brilha no escuro em Liverpool, eu tive tempo suficiente para experiências com a comunidade local, que estão no cerne do conceito do projeto. Uma obra pública como essa teria um grande impacto para a área e a cidade. Além disso, pode dar uma inspiração profunda para futuros projetos.
O que é importante para você na escolha de materiais?
Os estudos prévios para os projetos podem ser feitos com bases imateriais e para recursos naturais, sociais e humanos que devem ser praticados sem que se esqueça da profundidade do projeto.