O patrimônio cultural sonoro e visual enfrenta grandes riscos ao redor do mundo. Além da fragilidade e especificidade desses suportes, há a iminência da obsolescência. Onde conseguimos ver uma fita U-Matic? Ou mesmo uma VHS? Quem tem esses equipamentos em suas instituições? Eles ainda funcionam? Há como repará-los quando quebram?
Exatamente por esses suportes já estarem com sua vida contada – não há dúvida de que não terão acesso no futuro, só não se sabe em quanto tempo isso acontecerá – a digitalização tem sido vista como uma ação importante para promover o acesso e preservar estes conteúdos para futuras gerações.
No entanto, para que essa resolução seja tomada, é necessário muito planejamento. Ao gerar arquivos digitais, outras ações de preservação devem ser implementadas, que requerem infraestrutura, metodologia e capacitação específicas. Ou seja, é preciso conhecer as coleções, entendê-las, e assim estabelecer metas e prioridades, traçar projetos, orçamentos e sistematizar tais ações. Só depois do entendimento de uma coleção é possível avaliar fatores como riscos, custos e fazer projeções futuras.
É com consciência desse risco e percepção da necessidade de formar os profissionais que trabalham com esses acervos que o ICCROM (International Centre for the Study of the Preservation and Restoration of Cultural Property) – organização não governamental dedicada à preservação do patrimônio cultural mundial – promove, desde 2007, o SOIMA, Sound and Image Collections Conservation.
Em 2014 aconteceu a edição SOIMA-LATAM, no México, organizado conjuntamente pelo ICCROM, CNCPC-INAH (Coordinación Nacional de Conservación del Patrimonio Cultural) e ENCRyM-INAH (Escuela Nacional de Conservación, Restauración y Museografía) especial para os profissionais que trabalham em acervos latinoamericanos, e eu estive entre os 15 selecionados, representando o Arquivo Histórico Wanda Svevo. Foram duas semanas de curso intensivo, com aulas com especialistas das mais diversas áreas, tratando de preservação de fotografias, vídeo e áudio, digitalização e preservação digital, gerenciamento de coleções e planejamento para responder a desastres.
Além da troca com grandes especialistas nos temas – em especial nas questões de preservação digital – foi de fundamental importância a rede de contatos estabelecida com os profissionais da América Latina. Entender em que momento estamos, como temos solucionado questões em cada acervo, como lidamos com a falta de recursos e investimento para a preservação do patrimônio, comum a todos esses países.
Saímos do México com a promessa de continuar essa parceria, na esperança de que ela nos gere muitos frutos no que tange à geração e circulação de conhecimento.
Para o trabalho diário no Arquivo Bienal, todos nos beneficiamos. O aprendizado do curso e todas as portas que ele abre nos servem de alicerce para continuar o trabalho de diagnóstico e catalogação dos acervos, e para consolidar os protocolos de digitalização e políticas de preservação dos acervos digitais. Estes são passos fundamentais para a estruturação do trabalho e para cumprir o planejamento que temos para os próximos anos.
Confira aqui ou aqui alguns exemplos do acervo do Arquivo Bienal.
Em tempo, o Soima será realizado este ano na Bélgica no segundo semestre. Clique aqui para mais informações.
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Giselle Rocha é conservadora do Arquivo Bienal. Mestre em artes pela Escola de Belas Artes da UFMG, na linha de pesquisa Criação, Crítica e Preservação da Imagem.