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Dossiê Jorge Oteiza
01 Out 2014
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Artista participante da 4ª Bienal, Jorge Oteiza, tem esculturas relembradas por Asier Mendizabal na 31ª Bienal

Asier Mendizabal trabalha na instalação de sua obra. 25/08/2014. © Pedro Ivo Trasferetti / Fundação Bienal de São Paulo

"O trabalho que o [artista espanhol] Asier Mendizabal produziu para a 31ª Bienal reinscreve de forma crítica, no contexto da arte contemporânea, o projeto escultórico e as ideias [de seu conterrâneo] Jorge Oteiza (1908-2003), cuja atuação na América Latina entre as décadas de 1930 e 1960 foi de grande relevância, embora seja pouco estudada”. (Guia da 31ª Bienal, p.36)

 
Jorge Oteiza com sua escultura Expansão Espiral Vazia na 4ª Bienal de São Paulo (1957) - Imagem extraída do site do Museu Guggenheim Bilbao.
A Bienal deve ser uma organização viva, capaz de enviar para todo mundo informações a respeito da nova arte - Jorge Oteiza

De fato, o artista Jorge Oteiza estabeleceu uma forte conexão com o Brasil a partir de sua participação na 4ª Bienal de São Paulo, em 1957, quando ganhou o Grande Prêmio de Escultura. De acordo com Leonor Amarante, em seu livro As Bienais de São Paulo / 1951 a 1987, a escolha de Oteiza para o prêmio de escultura foi a grande surpresa daquele ano, pois o favorito era o inglês Lynn Chadwick, “enquanto o espanhol era praticamente um desconhecido”.

Vale lembrar que a 4ª Bienal foi uma das edições mais conturbadas da mostra, que naquele momento havia crescido exponencialmente e sido legitimada como a manifestação artística de maior repercussão da América Latina. A confusão inicial foi a polêmica seleção das obras para a exposição, feita por um júri rigoroso que deixou de fora artistas como Maria Bonomi, Darcy Penteado, Felícia Leirner, Aldo Bonadei, Flávio de Carvalho, sendo que o último chegou a exigir o fim da mostra enquanto Bonadei ameaçava queimar suas obras recusadas. Naquele ano a Bienal passou a ocupar o seu pavilhão atual, o antigo Palácio das Indústrias, construído para abrigar exposições industriais durante os festejos do IV Centenário de São Paulo.


Jorge Orteiza – bem abaixo da placa “Artistas Laureados” – na cerimônia de Premiação da 4ª Bienal, junto a outros artistas premiados como Franz Weissmann, Fernando Lemos, Fayga Ostrower, Frans Krajcberg. Fotógrafo não identificado

Apesar da polêmica, Oteiza foi aclamado por vários críticos de arte da época. No dossiê do artista há recortes de diversos jornais sobre sua obra. O jovem Ferreira Gullar escrevia em 27 outubro de 1957 no Jornal do Brasil:

“Pode-se dizer que o Prêmio para Escultor Estrangeiro da IV Bienal de São Paulo – a exemplo do prêmio da I Bienal, dado a Max Bill – praticamente revelou para os meios artísticos internacionais um novo nome – o do escultor espanhol Oteiza”. Mais adiante no texto, Gullar pontua: “É o próprio Oteiza que assinala a diferença entre sua arte e a de Bill. Com efeito, em lugar de tentar resolver as ‘contradições’ da percepção espacial – e buscar para elas uma forma coerente e contínua – como o faz Bill, o escultor espanhol constrói para mostrar não o espaço físico e suas relações objetivas, mas o espaço como ‘lugar desocupado’, o vazio que não é inteiramente vazio porque o enche ‘a sensibilidade da ausência’.(...)

  

Clipping - Dossiê do artista Jorge Oteiza

José Antonio Novais no Estado de São Paulo de 24 de novembro de 1957 deu voz às impressões de Oteiza sobre São Paulo, o Brasil e a Espanha, que desde 1939 vivia sob a ditadura franquista:

“São Paulo, em matéria de arte, possui o sentido americano, ou seja, a projeção para o futuro. Daí serem os erros que se possam atribuir ao Brasil, erros de confiança na vida, erros positivos; em contraste com os erros europeus que são erros do passado, de falta de confiança no futuro, erros negativos. A Bienal de São Paulo, concedendo-me um prêmio, quase desconhecido como sou, demonstrou esta confiança na vida e fé no futuro. E não sabe São Paulo com que juros, com quanto amor vou retribuir a confiança em mim depositada. (...) Fui premiado no Brasil apenas pelo germe do que sou capaz de realizar. O ‘realismo metafísico’ da minha obra que por certo caracterizou o pavilhão da Espanha em São Paulo, é a representação plástica do ímpeto e da revolta existente diante de um estado de coisas com o qual nós, os artistas espanhóis, não nos conformamos".

E por fim, as sugestões de Oteiza para a Bienal, ainda em 1957, radicalmente inovadoras:

“Em São Paulo tudo tem que ser novo. A Bienal deve tomar o pulso da arte contemporânea. Grandes reuniões de críticos e artistas devem ser promovidas durante a sua realização.(...) A Bienal não é uma exposição a mais, ou pelo menos não devia sê-lo. Eu introduziria modificações, abolindo de imediato as representações nacionais, substituindo-as pela seleção feita por conselheiros internacionais. (...) Além disso, nada de catálogos, somente no fim anais prestando contas do estado da arte, das suas tendências, propósitos e fins. E produziria filmes para serem enviados a todas as cinematecas. A Bienal deve ser uma organização viva, capaz de enviar para todo mundo informações a respeito da nova arte”.